Vale anuncia compra de ativos da Rio Tinto por US$ 1,6 bilhão à vista

A Vale anunciou a compra de ativos de minério de ferro e potássio da mineradora anglo-australiana Rio Tinto por um total de US$ 1,6 bilhão, mediante pagamento à vista. Segundo fato relevante da empresa, US$ 750 milhões serão desembolsados pelos ativos de minério, enquanto os US$ 850 milhões restantes do negócio referem-se aos depósitos de potássio. "A recessão global não altera os fundamentos que determinam o crescimento de longo prazo da demanda por fertilizantes e em particular do potássio.

Do lado da oferta, a capacidade de expansão da produção através da ampliação de operações existentes é limitada, o que se soma às restrições de caráter geológico, financeiro e institucional para o desenvolvimento de novos projetos", disse a Vale. "A aquisição de ativos de potássio está alinhada com nossa estratégia de crescimento, permitindo aproveitar os benefícios da exposição à expansão do consumo global", acrescentou.

A companhia brasileira, maior produtora mundial de minério de ferro, está comprando 100% das operações de mineração de minério de ferro a céu aberto de Corumbá (MS) e ativos de logística, incluindo porto fluvial e barcaças. Segundo a Vale, Corumbá produziu 2 milhões de toneladas métricas de minério de ferro em 2008 e possui capacidade nominal para produzir 2,5 milhões de toneladas por ano. Ao final de 2007, possuía reservas provadas e prováveis de 210 milhões de toneladas, com teor de ferro de 67,0%, e recursos minerais de 583 milhões de toneladas, com 62,7% de teor de ferro.

Conforme a Vale, o tipo de minério disponível em Corumbá possui alto valor e está se tornando escasso no mundo. Os ativos de logística envolvidos na transação, disse a Vale, possibilitam ter 70% de autossuficiência no transporte de minério de ferro através do Rio Paraguai. "A logística é estrategicamente importante na região, dada a existência de forte volatilidade sazonal na disponibilidade e preços de fretes", afirmou a Vale.

Por estar perto às operações da Vale de minério e manganês em Urucum, a empresa vê "potencial para exploração de várias sinergias, envolvendo maior flexibilidade dos ativos, redução de custos administrativos e de logística e racionalização do uso das reservas". No início do ano, a Rio Tinto suspendeu um projeto de US$ 2,15 bilhões para expandir a produção de Corumbá para cerca de 12,8 milhões de toneladas por ano. Também havia estudos para uma expansão posterior, que elevaria a produção de minério no local para 23,2 milhões de toneladas anuais.

Além dos ativos em Corumbá, a Vale está comprando 100% dos projetos de potássio Rio Colorado, localizado nas províncias de Mendoza e Neuquén, Argentina, e Regina, na província de Saskatchewan, Canadá. Segundo a Vale, Rio Colorado compreende o desenvolvimento de mina com capacidade inicial de produção de 2,4 milhões de toneladas por ano de potássio e potencial para expansão até 4,35 milhões de toneladas anuais, construção de ramal ferroviário com extensão de 350 quilômetros, porto e planta de geração de energia elétrica.

Os recursos minerais estimados chegam a 410 milhões de toneladas.Regina encontra-se em estágio de exploração, tendo potencial para produção anual estimada de 2,8 milhões de toneladas de cloreto de potássio. A área do projeto já conta com infraestrutura para suprimento de água, energia e serviços de logística, permitindo o transporte do produto final até Vancouver na costa oeste do Canadá, o que facilitará o acesso ao mercado asiático, de acordo com a Vale.

Na Austrália, as ações da Rio Tinto reagiram positivamente à notícia da venda dos ativos, fechando com alta de 3,5% na Bolsa de Sydney. O índice S&P/ASX da Bolsa encerrou com valorização de 0,4%. O diretor-financeiro da mineradora anglo-australiana, Guy Elliott, disse que a venda representa mais um passo em direção ao compromisso da companhia, de reduzir sua dívida em US$ 10 bilhões neste ano. A operação dá ao mercado a esperança de que ainda existam compradores no exterior para os ativos que a companhia pretende vender, mas não elimina totalmente a preocupação de que ela seja obrigada a diluir o valor de suas ações com uma oferta destinada a levantar recursos para diminuir o endividamento.

"A transação demonstra a abrangência e a qualidade do nosso portfólio de ativos e nossa capacidade de gerar valor para os acionistas apesar das condições difíceis da economia e do mercado de crédito", afirmou Elliott em comunicado. A Rio Tinto carrega uma dívida de US$ 38,9 bilhões decorrente da compra da produtora de alumínio canadense Alcan e tem de pagar US$ 8,9 bilhões em outubro, mais US$ 10 bilhões um ano depois. A mineradora já anunciou uma série de medidas para ajudá-la a reduzir a dívida, incluindo o corte de US$ 5 bilhões nos investimentos previstos para este ano e a demissão de 14 mil trabalhadores.

Segundo analistas, porém, mesmo com essas medidas a empresa ainda precisa reunir bilhões de dólares para cumprir o objetivo de reduzir o endividamento em US$ 10 bilhões neste ano. Analistas do Citi calculam que a mineradora australiana precisa levantar US$ 6,5 bilhões com a venda de ativos em 2009 para cumprir a meta. Nesta semana circulou a notícia de que a empresa estaria negociando com a chinesa Aluminum Corp. of China (Chalco) sobre a venda de ativos ou até uma injeção de capital. A Rio Tinto não comentou o assunto.

Fonte: Dow Jones

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